quinta-feira, 13 de março de 2008

Empilhar

Empilho os Cds, os livros, as pratarias, a maleta de mão.
Empilho as panelas, os garfos, os palitos, os copos.
Empilho os cobertores, os travesseiros, as fronhas.
Empilho o sabonete, o creme-dental, a escova e a toalha de papel.
Empilho as cartas, as fotos, os poemas que fez.
Empilho a verdade. Junto a ela a mentira que você me fez acreditar.
Empilho a fé que tinha, os sorrisos que dávamos na varanda.
Empilho suas camisas brancas, seu sapato verniz, as meias que deixou no varal.
Empilho logo a TV por sobre a cadeira do quintal.
Eu afundo nas pilhas o perfume que você largou na minha estante.
E risco a chama do isqueiro com o qual fumou.

Por que quando te descobri fiz questão de me espalhar.
De espalhar seu cheiro, seu gosto, suas roupas, seus gestos e seus objetos pela casa.
Porque era a ocasião em que me dizia querer.
Tanto estar.
Que esteve em todo lugar.

Enquanto há tempo.
Pra largar,
Aposentar os usos que você fez de mim.
Enquanto há tempo pra pensar.
Na mulher que agora toma seu tato em meu lugar.

Empilho...
Empilho.
 

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