quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Capítulo II

Já eram quase 18:00 h. Ela já havia se levantado daquela cadeira umas trinta vezes. O vento que tocava seus pés era quente como fumaça de bule d'agua. Atreveu-se a olhar seu chefe com uma expressão de cansaço no rosto como quem suplica por dez minutos de adiantamento na saída. Não teve êxito. Esperou o relógio pontuar às exatas 18:00 h para se levantar daquela sala quente e seca rumo à rua, pronta para enfrentar o solzinho esperto do horário de verão. Sabe-se lá porque sentia um contentamento estranho quando colocou os pés na rua, sorriu, e logo ouviu seu nome sendo gritado, quase sussurrado, do outro lado da rua.
Ele permanecia dentro do carro e oferecia a ela o sorriso de quem quer surpreender. Estava a esperá-la desde às 17:40. Imaginou que já o tivesse avistado, visto que saiu sorrindo abobalhada.
Ela hesitou em aceitar a carona até em casa, pensava que teria de ter a conversa da qual fugira dias antes e não tinha tempo. A faculdade começava às sete e ainda havia de tomar um banho, pois com esse calor todo estava molhando o colo de suor.
- Quando voltei você já não estava mais lá.
Uma silêncio se fez em meio ao barulho de passagem de carros e vozes de traseuntes.
- É que tive medo. Não sabia o que iria dizer.
- Entre ou o calor cozinha-nos.



Continua....

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Quem sou eu:



Sou...
Um objeto – ser.
Participante do mistério do Planeta.
Sondando o mundo-universo
Feito passarinho,
Canto.
Desminto,
Acabo sozinho.



Escrevo,
Poque feita de carne
Sinto-me pedaço dessa massa forte
Canção

Energia
Inspiração.



Sou luz dissipada,
Fogo brando
Mata seca – queimada
Sou passo de samba
Água de cachoeira
Saia rodada
Vestido florido



Sou, antes de tudo,
Apenas um objeto – ser
Desse universo em desencanto.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Deixa estar...




Ziguezaguiando zonzo de te procurar
Tranco no meu pranto o canto alto de euforia que eu queria te cantar
Guardo pra mim,
Deixa estar

Los Hermanos

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Capítulo I


Carrega os livros todos, passa pro dentre as pequenas frestas das enormes prateleiras de livros. Caminha, como se adiante não fosse o conhecimento seu melhor encontro do dia. Aproxima-se do primeiro degrau da escada.


Pensa agora em vê-lo, e sorrir enquanto se aproxima para dizer as palavras que escolheu no final de semana.


Um passo. Sobe o primeiro degrau da escada curva, zoneante, balançando os cabelos. E quando aponta no segundo piso, a ação imediata é a de movimentar as pupilas em busca da imagem dele. Não faz muito esforço. Sabe ela que ele costuma frequentar a biblioteca às noites de segundas e quintas-feiras.
Logo o avista, de costas, sentado, de branco, balançando um papel em volta de si por conta dos quase 35° que fazem. Aproxima-se por detrás. Sutil, ela caminha como criança nas pontas dos pés – quase eufórica. E num movimento único sopra sua nuca para pegá-o num susto. Ele volta a face para ela sorrindo, com uma expressão de quem diz: “você!”.


Repousa os livros sobre a mesa e senta-se ao lado dele.


Conversam por cerca de cinco minutos, sobre os afazeres, o cansaço, o trabalho, a família – essa conversa de quase desconhecidos. Suspira ela em busca de fôlego para lhe dizer o quanto era importante encontrá-lo ali hoje, precisava lhe dizer, confessar o desprezo que tem – agora – da solidão.


Mas o jeito que agora ele sorri faz com que ela já não se lembre do significado do que iria dizer, pois ele diz "- estou bem" e seu sorriso agora urge como indiferente e um tanto desprezível pela pessoa que aguarda lhe mostrar o poema que fez na noite anterior.


Resolve esperar pelo fim da leitura que ele fazia, enquanto apressa o exercício que também viera à biblioteca fazer.


Instantes depois ele se levanta rumo ao banheiro. Ela admira-o de longe mas indaga-se porque deveria esperá-lo e porque não fugir escada abaixo com toda a angústia que agora sentia. E o faz.


Desce as escadas, agora já não mais balança os cabelos, nem se movimenta sutilmente; foge. Anda às pressas com temor de que ele retorne e a veja ali: fugindo. Fugindo do descontentamento de vê-lo bem - sem ela- fugindo da dor que não espera mais sentir.


Caminha a passos largos rumo à larga avenida, caminha agora para o vão de si.

Silêncio meu


Tec tec tec tec tec tec...... ao som do teclado...
Esvazia-se meu dia....
tec tec tec....
hoje não escrevo nada.
Pois pra dizer da dor que sinto
Prefiro mesmo estar calada;

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Uma canção de amor




Espere...

O que falei a pouco não foi pra te machucar.
É esse impulso infante
Que faz de mim esse monstro que você vê.

Não bata outra vez a porta amor,
Ando cansada de correr pro lado seu.
Sabe que hora dessas bate o vento, seca nossas lágrimas
E você desmacha a cara feia de quem não quer me ver.

Já são onze.
Esperemos a sensatez nos pontuar também.
À meia noite te digo: "Jure"
E você fala sobre nossa velhice, calvice e fim.

Tire o sapato amor,
Vem me dê do nosso jeito a sua mão
Sorria que é pra me encantar
Espere o badalo das doze
E volte amanhã pro jantar.


Escrevo...

É como um impulso constante, acelerado.
Movimento Circular Uniforme.
Vasto.
É o que preenche o vazio.
E faz-me acreditar que literatura é mais gostoso que conhecimento acadêmico.
fim

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Assunte...

É arripio que sinto quando vejo pedaços de pau secos no chão.
Esse vento quenem tampa de bule, esse sol que mastiga o gado.

Mas, já dizia algum poeta: Depois do tormento - seca- vem a abundância - chuva.
E esse ar e essa terra com cara de lama rasa vão tomar, dia qualquer, dimensão de mar.

Mergulhados em água doce e pura, dançaremos ao cheiro de poeira alevantada.
Esse povo pobre, mas não sem fartura, colherá Flor-de-pequi em ano todo.

-> à G.R.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Ele em mim...

Parecia ser assim: quando eu apressava o passo ele se afastava de mim.
Mas não era a fuga o que mais me instigava/intrigava. Era porque ele sempre sabia me olhar quando não podia vê-lo.
InstigAVA - no passado - pois, quando vi, era eu que me anunciava para ele com um movimento sutil de cabelo e depois fugia com o olhar pra deixar que ele me notasse.
Era eu quem fugia e me dei conta apenas hoje.
Pudera... eu quem sou...

Começava assim: eu com os pés na água, ele com os olhos em mim. Eu com cabelos tocados, ele soprava em mim o vento que eu imaginava surgir das árvores. Num instante assim, no outro assado. Agora, eu é quem corria pro seu lado. Fingia eu ter medo, pra me esconder atrás do cheiro que ele exalava - quase inodoro, apenas cheiro de si mesmo. Amargava eu um sorriso que suplica por uma palavra qualquer. E ele, continuava ali.

E pedia um copo. " - Coloque um pouco de vinho para mim." Era hora de rir. E de calar em seguida porque também já não havia muito o que dizer. Não sei se por mim, tagarela que sou, mas por ele. Por ele e aquela mudez que me fazia desejar apenas um. Abraço qualquer, palavra doce solvida baixo, pra que ninguém note.

E quando num risco de palavras qualquer soube eu do desejo seu: de mim.

E, quando num gesto sutil, num sorriso surgido deitados na grama a olhar o céu, eu quis ainda mais saber do desejo seu, dos seus objetos e de mim - por ele.

E terminou assim... eu cantarolando repetidas vezes a frase mais linda que ele cantou: "Ao sol ...".

E termina assim... eu me lembrando do timbre medroso e suave da sua voz. Esperando o sol clarear. Termina assim: eu lembrando dele, ele, talvez, ainda lembre de mim.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Sinestesia

Em frente à tv.
Radio qualquer faz cheiro de MPB.
Pipoca seria?
Bife ou carne cozida?
Amanheceria. E eu ainda estaria ali.
Estático tempo corrente.
Quebrando atrás de mim.
Sigo em frente,
Adiante enxergo o vão de mim.
Pipoca seria?
E eu ainda estaria ali.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Meninices...

É dia de sol qualquer. Caminho, tropeço, me espanto e páro.
E, parada bem ao lado, observando o movimento contínuo da moça que parece pincelar o vazio daquela enorme panela com um palitinho tipo-espeto.
Pinta de cor invisível o ar?
A moça na esquina faz com o que se parece açucar refinado vire nuvem!
Como nuvem rosa ou quase sem cor.
E surge como que do nada!

Tão constante a imagem que parece repetida em tempo-espaço de segundos.
Ela bole. futuca a vazia panela de fazer nuvem, enquanto um barulhinho de máquina qualquer se faz singelo.

E surge! algodão doce rosa.

Rosa como quase sem cor.

Menina como sou, soa-me como convite irrecusável: comer algodão doce na esquina.
E entro na fila. "avante!" penso eu.
Revivendo aquela ansiedade do sabor nunca sentido, imagino-me levando o doce pedaço de nuvem rosa à boca grande que deus me deu.
Que benção! E quando aponta para mim aquele palitinho tipo-espeto - agora tão mais lindo -deliro!
Como é possível comer açucar mutante e sentir sabor do céu?

Menina da porteira bahia-minas...
Tão menina ainda és!

Ainda não me canso de ser eu.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Volto eu, em mim, em letras.

Pois é... não me canso nunca de ser eu.
O calor seco desse pasto cru me empurra... infuzado sol montesclarense!
Vai lá menina!

E venho... como nada mais me satisfaz que sorrir e respirar ao ver as letras, ainda que sejam estas mesmas: computadorizadas, cheias de design e sei lá mais o quê.

Quem dera eu. Sozinha, mentindo.

Cruel inconsciente de que falou lá o louco do Freud.

Venho eu, margeando...

Venho eu, escrevendo.

Volto, pois, eu. Invejando as letras de Assis, Sabino.

Volto já.
 

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