quarta-feira, 4 de novembro de 2009

À duas mãos.

Na fase do não escrevo
A mão torna-se pesada
O estilo perde o fio
E a folha, a meada
O que antes era leve
Engrossa-se e desafina
E o poema que era fácil
Sublima.

O que antes era claro, turva
O que fora clarão, anuvia
E outra vez pousa a mão sobre a mesa
A falta de formas
Torna-se outra vez
Leveza.

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Poema do ato de poetar.
Primeira estrofe por Sam.
Segunda por Mim.
Numa conversa de MSN.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Na mente alheia: por Ele

São dois contos complementares - dois olhares sobre determinada situação, o outro está logo abaixo.

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Na mente alheia: por Ele

Um bar; três horas da manhã; uma mesa grande farta de cervejas, porções de carne-de-sol e batata-frita; oito amigos que, entre um gole e outro, riem alto, conversam muito. Exceto dois indíviduos: Ele e Ela.

Calor aflitivo, barulho irritante, garçons atrapalhados, conversas pseudo-engraçadas: eu imaginando onde estavam os pensamentos dela. Com o cigarro firmado entre os dois dedos, as unhas escarlates, metida em risos sutis. Eu bebendo aqui dois ou três goles de cerveja em busca de duas ou três palavras para dizê-la.
Preparei duas frases de efeito, que já não lembro ao certo. Uma delas começava com 'eu' e terminava com 'nós'. Soaria um pouco convidativo demais, um pouco piegas demais, poderia fazê-la recuar. Suspirei; soltei os lábios para dizê-la que tinha lindos cabelos negros, mas outra vez hesitei e pausei o olhar no arranjo da mesa, aborrecido de minha inércia.
Queria lhe dizer palavras que não me ocorriam, que falassem do meu desejo, dos lábios dela e dos nossos lábios em encontro pleno: enebriados. Levantei-me da mesa para buscar coragem em frente ao espelho do banheiro e só o que encontrei foi a imagem de um completo idiota. Desisti e restei-me perdido, vencido.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Na mente alheia: por Ela

São dois contos complementares - dois olhares sobre determinada situação, o outro conto posto já.
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Na mente alheia: por Ela

Um bar; três horas da manhã; uma mesa grande farta de cervejas, porções de carne-de-sol e batata-frita; oito amigos que, entre um gole e outro, riem alto, conversam muito. Exceto dois indíviduos: Ele e Ela.

Multidão de vozes, entra e sai constante de pessoas, garçons atravessando dum lado ao outro.
Numa das minhas mãos um cigarro a ser aceso: eu metida em meus próprios pensamentos. Hora ou outra eu pescava alguma conversa, puxava um gancho, tecia comentários que se tornavam voláteis ou eram ignorados. Então, voltava a entornar mais um gole de cerveja.
Ele apenas calado, indíviduo-instinto-observador. Nalgum momento ria  de um comentário ali, outro lá e, então, levava o copo de cerveja à boca.
A essa altura meus sentidos não correspondiam à digna sobriedade. E certa alegria me tomava, crescendo e saindo aos tropeços em risos que pareciam sem porquê. Em meu peito convergiam: êxtase e ânsia que explodiam numa latência em minha pele.
Então lancei a ele um olhar: como se me despisse, sutilmente, para entregar todo o desejo. Olhei-o , como se mergulhasse num rio turvo, disposta a sentir os espasmos do movimento de meu corpo em contato com a densidade da água. Mas Ele perdeu o olhar, voltou a atenção ao arranjo da mesa, como que observasse a flor, numa inquietação incômoda.
Desejei cruzar nossos olhos na altura do silêncio, na medida perfeita do meu pulsar, e que, assim, pudéssemos estar, por alguns segundos infinitos, fora daquele lugar, nalgum trecho perdido do tempo. 
Mas Ele levantou-se, dirigiu-se ao banheiro. Eu? engoli meu olhar 43 e retornei às conversas vagas do resto da mesa, vencida.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

De volta.

Já dito, repito hoje como citação a mim mesma: "Escrever é como transpirar."

Por algum tempo estive longe do Blog.
Quase no fim, já decidida a deixar de lado, era um amigo aqui, outro acolá que gritava:
"E lá no blog, posta lá." e mais algumas falas cheias de uma cobrança gostosa "Gosto dos escritos, quando volta a escrever?".

Não, não deixei de escrever.
Acredito até mesmo numa maturidade da escrita. Por isso retorno.
Nesse tempo muitas novas coisas: novo curso, novas paixões, novos apegos, novas madeiras a queimar no meu fogãozinho a lenha: combustível.

Volto, então.
E agradeço aqueles que cobraram por retorno...

 ... pedras rolando, ladeira abaixo: lapidadas: Palavras ...
 

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