sábado, 24 de maio de 2008

Recolhido.

Não houve tempo pra gastar, nem pra dizer o que tantas vezes ensaiei .
Surgiu... como nunca esperaria que surgisse.
E esteve com seus olhos claros e sua voz mansa.
Sorriu... um sorriso quente e alvo que ela procurou gravar, pra não esquecer outra vez de como era lindo.

Ele disse da sua vida, das mudanças, do futuro.
Eu disse de mim, das minhas bobagens e dos meus planos.
E o desejo escondido, recuado pelo desprezo do tempo, se mostrou tão vivo.

Era, outrora, o amor idealizado e descrito nos diários dos meus 17.
Era, agora, a força do momento, o desejo da espera e a deliciosa irresponsabilidade dos adolescentes.
E limpo, sem desprezo, sem culpa nem dor.
Foi o beijo mais longo. A loucura mais sã. A irresponsabilidade mais certa. A traição mais leal.

E eu me senti outra vez a menina - que com o trato do tempo perdeu os pudores e os medos - que contraía involutariamente os músculos das pernas no momento em que os lábios dele tocaram a sua pele fresca e nunca antes tocada. A menina que se pega sorrindo sozinha quando lembra do olhar que ele lhe deu.

Lembrei-me de como é ser menina...
Lembrei-me de como é flutuar.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

JoZéS... infinitos homens.




Pois quando meu chá principia a esfriar lembro-me das paixões de verão; dos amores verdadeiros de anos de duração; dos desentendimentos que repentinamente acabam com os sonhos construídos a par; dos romancezinhos de praça de igreja em minha infância, das cartas recebidas, também das nunca enviadas, das rosas que ganhei - hoje murchas esquecidas dentro dum livro velho; dos amores febris – de puro toque - ; dos amores completos... com mãos entrelaçadas pra andar nas gramas, com coração pulsando num beijo dado no chafariz, as fotografias, o cheiro que deixam sobre as roupas minhas e o sopro que eu lanço na nuca.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Difuso...

Não sabe se são duas, três ou quatro da manhã.
Não se lembra como é dormir

Desafoga da gaveta as fotos velhas, os cartões e tudo quanto for com desejo de encontrar sentido pras coisas vãs.
Nem suas velhas fitas de cabelo, nem seu cartão de maternidade lhe fazem lembrar.

A imagem que reflete o espelho não corresponde ao que desejou ser.
Seus cabelos cheiram à cinza, sua boca cheira à maçã do último jantar.
E onde ela está?

No centro do breu, no meio do escândalo, na multidão.
No sermão do padre ou na descrição de Drumonnd?
No riso abobalhado ou na lágrima entoada?
Onde mora a moça?
No céu ou na fossa?

Relâmpago que aparece pra acenar que não está.
Carrega as dúvidas como carrega a solidão.

Enquanto o sono não vem. Acendo o último cigarro da mesa. Procuro na parede nua a resposta pra sair desse refrão...

Que amanhã acordo zonza, norteada de alguns acordes.
Abro os olhos pra enxergar clarões.
Quando chega outra vez a noite
Durmo acordada procurando dar espaço ao ditado mais fácil, que reitera: “por hoje não”.


07/05 – 20:51
 

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