terça-feira, 23 de outubro de 2007

Capítulo I


Carrega os livros todos, passa pro dentre as pequenas frestas das enormes prateleiras de livros. Caminha, como se adiante não fosse o conhecimento seu melhor encontro do dia. Aproxima-se do primeiro degrau da escada.


Pensa agora em vê-lo, e sorrir enquanto se aproxima para dizer as palavras que escolheu no final de semana.


Um passo. Sobe o primeiro degrau da escada curva, zoneante, balançando os cabelos. E quando aponta no segundo piso, a ação imediata é a de movimentar as pupilas em busca da imagem dele. Não faz muito esforço. Sabe ela que ele costuma frequentar a biblioteca às noites de segundas e quintas-feiras.
Logo o avista, de costas, sentado, de branco, balançando um papel em volta de si por conta dos quase 35° que fazem. Aproxima-se por detrás. Sutil, ela caminha como criança nas pontas dos pés – quase eufórica. E num movimento único sopra sua nuca para pegá-o num susto. Ele volta a face para ela sorrindo, com uma expressão de quem diz: “você!”.


Repousa os livros sobre a mesa e senta-se ao lado dele.


Conversam por cerca de cinco minutos, sobre os afazeres, o cansaço, o trabalho, a família – essa conversa de quase desconhecidos. Suspira ela em busca de fôlego para lhe dizer o quanto era importante encontrá-lo ali hoje, precisava lhe dizer, confessar o desprezo que tem – agora – da solidão.


Mas o jeito que agora ele sorri faz com que ela já não se lembre do significado do que iria dizer, pois ele diz "- estou bem" e seu sorriso agora urge como indiferente e um tanto desprezível pela pessoa que aguarda lhe mostrar o poema que fez na noite anterior.


Resolve esperar pelo fim da leitura que ele fazia, enquanto apressa o exercício que também viera à biblioteca fazer.


Instantes depois ele se levanta rumo ao banheiro. Ela admira-o de longe mas indaga-se porque deveria esperá-lo e porque não fugir escada abaixo com toda a angústia que agora sentia. E o faz.


Desce as escadas, agora já não mais balança os cabelos, nem se movimenta sutilmente; foge. Anda às pressas com temor de que ele retorne e a veja ali: fugindo. Fugindo do descontentamento de vê-lo bem - sem ela- fugindo da dor que não espera mais sentir.


Caminha a passos largos rumo à larga avenida, caminha agora para o vão de si.

4 comentários:

Zéder disse...

.. Le fabuleux destin d'Srtª LuzZ Poulain ..

Thaiane Guerra disse...

Como Poulan... rs

manuh disse...

.. amores perdidos [ou jogados fora].. não se esvaem com facilidade.. nunca!
.. tudo dói quando em relação com os sentimentos.. mais ainda quando é amor.. se é que isso existe..

existe??

Anônimo disse...

Caminha a passos largos rumo à larga avenida, caminha agora para o vão de si.

Cuidado, parece brincadeira falando assim, mas no meio da avenida "existe um esgoto".
Fique longe dele (se é que vc me entende (?)...)

 

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