terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Inócuo


Sorrindo ou cantando
Dançando ou sorrindo
Sorrindo ou falando
Falando ou Ouvindo.


O olhar de uma moça
Que vê o mundo apenas:
Em si e além de si – endogenamente.
Crê na beleza do mundo que cria no rabisco do lápis, na música do disco, no livro de cabeceira, no silêncio da manhã, na grama da praça, nos dentes da criança.
Crê numa explosão de idéias, na possibilidade de vivenciá-las alguma dia – quando tratar de ter coragem de se assumir como louca, como um ser que não pertence ao mundo real e que vive a flutuar sob os móbiles de seu quarto, em cima da rede, ao lado do violão, no cosmos.
Flutua com tanta intensidade que se esquece do tédio dos mortais – dos homens – da insensatez dos jovens, do esquecimento dos anciãos, das descobertas das crianças.
Senta-se na sala de aula e força-se a olhar o rosto quadrado, o terno quadrado e as palavras quadradas do seu professor. Mas é só ouvir um zunido de abelha, um mosquito que conflui na linha de seu caderno e faz largar a caneta e apanhar o lápis pra desenhar na carteira um fluxograma que aponta setas onde se lêem “loucura, viagem, beleza, sensibilidade” para um centro onde desenha seu rosto e seus cabelos.
Sai da sala procurando um cigarro amassado na bolsa onde leva livro, canivete, revista, batom, fotografia, linhas azuis. Vê-se numa multidão de estranhas criaturas que gritam com o fim de chamar atenção, que devoram salgados enquanto falam com a boca cheia, que entornam refrigerantes com gás, que usam brincos enormes de prata falsa e que alisam os cabelos com produtos que fedem à amônia. Sente-se estranha por estar e participar desse universo que causa assombro. Quando acende seu cigarro, sentada no banco que dá de frente pro pequeno brejo, pode ouvir os sons dos sapos, os grilos e não entende como tantas palavras soltas ao lado, numa roda de amigos, consegue ser, para eles, tão mais interessante.
Tem a leve sensação de que não pertence a esse mundo não fosse por algumas criaturas sensíveis que também destemem a solidão e amam as músicas que não tem vozes e que sentem cheiro de flor de longe. Que sabem falar com onomatopéias, que sopram palavras, que amam a terra seca ou molhada, o povo pobre ou farto, os sons daqui e os de lá. Por essas criaturas se sente, por um momento, um dentre os mais.

Um comentário:

Caroll . disse...

Se sentir completamente deslocada do meio onde se vive, olhar e n�o se identificar, ficar se perguntando 'o que fa�o aqui?' em meio a uma multid�o vazia.

Entre as diferen�as as vezes nos descobrimos.

=]

Bjo

 

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